Ódio e tensão! No Evangelho de hoje, extraído do profundo discurso de Jesus durante a Última Ceia, somos confrontados com uma realidade certamente desafiadora, mas, ao mesmo tempo, fundamental para a identidade cristã: a inevitável tensão e ódio entre os seguidores de Cristo e o “mundo”. Com efeito, Jesus prepara seus discípulos para a hostilidade que enfrentarão, não como um sinal de fracasso, mas sim como uma consequência direta de sua união com Ele e de sua separação dos valores mundanos. Desse modo, esta passagem nos convida a refletir sobre a natureza do nosso testemunho e a fonte da nossa força em meio à adversidade.
Evangelho (João 15,18-21):
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
18 Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. 19 Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. 20 Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. 21 Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou.
Reflexão:
As palavras de Jesus no Evangelho de hoje ressoam com uma clareza por vezes desconcertante. De fato, Ele não nos promete uma jornada isenta de conflitos, ódio ou uma aceitação universal por parte da sociedade. Pelo contrário, adverte que seguir Seus passos implica, frequentemente, partilhar do mesmo tratamento que Ele próprio recebeu.
Primeiramente, Jesus prepara seus discípulos para a hostilidade que enfrentarão, utilizando o termo “mundo”. No Evangelho de João, é importante notar que “mundo” frequentemente se refere ao sistema de valores oposto a Deus, marcado pelo pecado, pela incredulidade e pela resistência à verdade divina. Portanto, o ódio vindo dessa esfera não é, necessariamente, um sinal de que estamos no caminho errado. Paradoxalmente, pode ser até mesmo uma confirmação de nossa fidelidade a Cristo.
Além disso, ao sermos “escolhidos do meio do mundo”, nossa identidade fundamental é transformada. Consequentemente, deixamos de pertencer aos padrões e prioridades que regem a sociedade secularizada para pertencer ao Reino de Deus. Essa nova identidade, por sua vez, nos coloca em uma posição distinta.
Naturalmente, essa separação intrinsecamente gera atrito. O mundo tende a amar “o que é seu”, ou seja, aquilo que reflete seus próprios interesses, sua autossuficiência e sua rejeição à soberania divina. Assim sendo, quando vivemos os ensinamentos de Jesus – como o amor, o perdão, a humildade, a busca pela justiça e o serviço aos necessitados – naturalmente expomos as inconsistências dos valores mundanos.
Essa exposição, por conseguinte, pode gerar desconforto, incompreensão e, em alguns casos, perseguição ativa, tal como o próprio Jesus experimentou. Ele nos recorda enfaticamente: “Não é o servo maior do que o seu senhor”. Logo, se o Mestre foi perseguido, não devemos esperar um tratamento diferente.
Contudo, é crucial entender que essa perspectiva não deve nos conduzir ao isolamento arrogante ou a uma mentalidade de vitimismo. A advertência de Jesus é, antes de tudo, um chamado ao realismo, à perseverança e à confiança em Deus. A hostilidade, na maioria das vezes, não surge por sermos desagradáveis ou por falhas em nosso testemunho pessoal, mas sim “por causa do meu nome”. Em outras palavras, é a nossa associação com Cristo, a nossa fé Nele e o nosso esforço em viver Seus mandamentos que podem provocar a reação do mundo.
Ademais, Jesus aponta a raiz desse ódio: a ignorância. “Porque não conhecem aquele que me enviou”. O mundo rejeita Cristo porque, em sua essência, não conhece o Pai. Diante disso, nossa missão não é buscar a aprovação do mundo a qualquer custo. Devemos, sim, permanecer firmes na fé, testemunhando o amor e a verdade de Deus com nossas vidas, mesmo quando isso implica enfrentar incompreensão e rejeição.
Felizmente, encontramos consolo e força na certeza de que não estamos sozinhos; caminhamos nas pegadas do Mestre, sustentados por Sua graça e pelo conhecimento Daquele que nos enviou.
Aplicação/Oração:
Senhor Jesus, Vós que enfrentastes o ódio do mundo com amor e fidelidade ao Pai, dai-nos a graça de compreender Vossas palavras. Que não nos assustemos com a incompreensão ou a hostilidade, mas vejamos nelas um sinal de nossa união Convosco. Fortalecei-nos, pois, para sermos Vossas testemunhas autênticas, amando mesmo aqueles que nos rejeitam, e perseverando na fé por causa do Vosso Nome. Que o conhecimento do Pai cresça em nós e, através de nós, possa tocar os corações daqueles que ainda não O conhecem. Amém.
Conclusão:
Em suma, o Evangelho de hoje nos chama a uma coragem serena e a uma identidade clara. Ser cristão é pertencer a Cristo, e isso, inevitavelmente, nos distingue do mundo. Que possamos, então, abraçar essa vocação com alegria e perseverança, sabendo que nossa segurança e nossa recompensa não estão na aprovação do mundo, mas sim na fidelidade Àquele que nos escolheu e nos enviou.
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